A economia da natureza
Os seres vivos sempre fazem parte de comunidades heterogêneas, mantendo, com o meio físico e entre si, relações de interdependência, ainda que remotas. Cada espécie necessita de substâncias ou componentes básicos do meio para sua alimentação, reprodução e proteção. Além disso, há exigências quanto à estrutura e topografia do ambiente para que a espécie desenvolva seus hábitos característicos.

Tudo isso faz com que cada espécie somente se desenvolva em ambiente onde existam composição e estrutura favoráveis, chamado de habitat, de maneira geral. Mas o ambiente ou habitat não é constituído exclusivamente pelo meio físico. Frequentemente, o nicho ecológico, isto é, o alimento, o material para a construção de ninhos ou os meios de proteção, são oferecidos ou disputados por outros seres vivos, seus concorrentes ou predadores.

A integração equilibrada de todos esses fatores (físicos, químicos e biológicos), é que permite e regula a sobrevivência, o desenvolvimento e o equilíbrio populacional de uma determinada espécie biológica. Nesses ciclos ecológicos, há uma reciprocidade na qual a economia da natureza não significa o predomínio desta ou daquela espécie; significa sim o desenvolvimento harmônico e equilibrado de todos os seres vivos.


 

O desequilíbrio
Quando o meio ambiente não é capaz de fornecer as condições exigidas para a vida – nutrição, reprodução e proteção – ele se torna impróprio à sobrevivência do ser vivo. O sapo-boi, por exemplo, destrói certos besouros que prejudicam o cultivo da cana-de-açúcar. Entretanto, ele também se alimenta de insetos destruidores de moscas transmissoras de doenças. Como o sapo-boi prolifera com facilidade (vive 40 anos e põe 40 mil ovos por ano), é perigoso colocá-lo em regiões onde não existam outras espécies que possam devorá-lo, pois desta forma o equilíbrio ecológico não será mantido. É, por outro lado, o sapo-boi que é tão bom para a agricultura, é também o responsável indireto pela proliferação de doenças.

O próprio homem se encarrega de quebrar o ciclo natural da sobrevivência. E em nome do conforto, do bem estar – e mais, do poder – o homem está transformado o seu meio ambiente, trazendo a poluição e provocando tragédias ecológicas.

Isso porque não está sabendo explorar adequadamente os recursos renováveis e não-renováveis da natureza. Até meados do século 19, a atividade do homem não concorria de forma tão acentuada para provocar mudanças drásticas que pudessem alterar a biosfera. A partir de revolução industrial, entretanto, e das grandes guerras mundiais, é que essas transformações começaram a ser sentidas com intensidade. É nessa época que a Inglaterra começa a conhecer os problemas de poluição do ar e da água.

A medida que o homem foi adaptando o meio ambiente às suas exigências progressistas, criando vacinas, meios de transportes, novas habitações, aparelhos sofisticados, novas formas de energia, explorando desordenadamente os recursos naturais, foi causando impactos e poluindo o ambiente. A exploração demográfica também teve sua influência: tendo necessidade de maior quantidade de alimentos, o homem precisou preservá-los, utilizando irracionalmente os defensivos agrícolas na lavoura e na indústria.


 

A troca de energia
O que aconteceu é que o homem partiu de uma visão puramente naturalista quanto à relação dos seres vivos com seu ambiente, para um pensamento imediatista, de explorar avidamente todos os recursos oferecidos pela natureza.

Antes, ele achava que as florestas, os rios, por exemplo, eram e deviam ser mantidos como verdadeiras obras de arte – levando em consideração apenas o lado estético, sem se preocupar com sua com sua própria atividade, como se não fosse parte integrante da natureza. Mas tarde, só teve preocupação de tirar proveito desses recursos a qualquer custo, aqui e agora, sem pensar nas populações futuras.

Embora esse enfoque ainda persista em certos setores da humanidade, o homem já percebeu (ou está percebendo) que a utilização indiscriminada ou inadequada do meio ambiente poderá levar não ao bem estar das pessoas, mas à destruição da vida no Globo. Percebeu ou está percebendo que a economia da natureza não deve significar o poderio econômico de alguns, mas sim a distribuição ou troca dinâmica e racional da energia produzida, visando a uma reciprocidade ou equilíbrio harmônico para o convívio das espécies vivas.

Dessa forma, um terceiro enfoque da ecologia é o que reconhece a existência dos recursos naturais, a necessidade de sua exploração para que o homem possa sobreviver. E também a necessidade imperiosa do estabelecimento de normas e medidas que racionalizem as atividades humanas e a utilização do ambiente.


Ecologia
Quem utilizou, pela primeira vez, o termo ecologia, em 1866, foi o naturalista alemão Ernest Haeckel, propagador das idéias de Darwin. Ele a definiu como “economia biológica ou economia da natureza”, ou ainda “ciência dos costumes dos organismos, suas necessidades vitais e suas relações com outros organismos” e mais, como “o estudo das relações de um organismo com seu ambiente inorgânico e orgânico”.

Atualmente, a definição de ecologia (do grego oikos – casa) está mais restrita ao estudo das relações entre organismos e o meio, enquanto o termo etologia (que para Haeckel era empregado como sinônimo de ecologia) se reserva ao estudo de costumes.


 

 

O ser vivo
Quando Lavoisier enunciou o princípio de que “na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”, estava falando em ecologia. E é fácil perceber que o cientista estava certo em sua análise do ser vivo e suas atividades básicas.

Segundo os pesquisadores, todo ser vivo é constituído de moléculas orgânicas, isto é, grandes moléculas formadas de extensas cadeias de carbono. Esse tipo de composto apresenta inúmeras vantagens para o organismo, devido ao seu grande tamanho, propriedades coloidais etc. Além disso, é um verdadeiro reservatório de energia.

Quanto mais extensa e complexa é a molécula, maior a quantidade de energia necessária para produzi-la. Por outro lado, maior será a quantidade de energia armazenada e disponível para as atividades vitais.

Nutrição é o processo de obtenção de matéria e energia do meio para a construção do organismo – e, portanto, o crescimento e multiplicação – e realização de suas atividades (movimentos, reações químicas diversas, manutenção de temperatura etc.).

Há duas maneiras básicas de nutrição. Ou os organismos se alimentam de compostos orgânicos já existentes no meio ou sintetizam e produzem esses compostos orgânicos.

Para a produção dos compostos, há necessidade de carbono obtido do gás carbônico e de grandes quantidades de energia. A fim de se alimentarem de compostos orgânicos, as espécies consomem outros seres vivos ou seus produtos, pois na natureza, os compostos orgânicos são produzidos pelos seres vivos.

Pode-se dizer, então, que direta ou indiretamente, toda atividade vital na Terra depende da capacidade de produção de matéria orgânica.


A fotossíntese
Nem todos os seres vivos têm capacidade de produzir compostos orgânicos a partir de carbono não orgânico. Somente os chamados autótrofos (produtores), em sua maioria, utilizam a luz solar como energia para a síntese (produção). Os outros organismos, denominados heterótrofos (consumidores ou decompositores) dependem basicamente da existência dos primeiros para a sua sobrevivência.

Os seres autótrofos são todos vegetais. Os heterótrofos são os animais e alguns grupos vegetais, como os fungos (cogumelos, mofos, levedos) e muitas bactérias.

Os autótrofos têm um pigmento verde, a clorofila que, exposta à luz do sol, transforma o gás carbônico em alimento (compostos orgânicos), liberando o oxigênio. É o processo da fotossíntese que, para ser realizado, depende também da água.

A vida no nosso planeta depende, assim, da existência da luz, da clorofila e da água. Há exceções: algumas bactérias que sintetizam compostos orgânicos empregando a energia resultante de reações químicas que provocam no meio; mas isso é inexpressivo, em face da fotossíntese.


 

 

Respiração
O animal ou ser humano, ao ingerir compostos orgânicos obtidos direta ou indiretamente dos vegetais verdes, adquire, por este processo, sua reserva de energia disponível, que fica acumulada principalmente sob a forma de gordura ou de açucares, nas células do corpo.

Para dispor dessa energia, basta que realize a reação contrária, isto é, transforme novamente estes compostos em gás carbônico: a transformação de um composto rico em energia em outro composto pobre em energia levará, necessariamente, ao desprendimento ou restituição da energia acumulada, segundo o princípio de Lavoisier. Esta transformação é feita pelos animais com a intervenção do oxigênio: trata-se de uma reação de oxidação que recebe o nome de respiração.


 

Produção e consumo de alimentos
Em todo processo de respiração há destruição ou decomposição de compostos orgânicos. Ou melhor: na natureza, a todo processo de composição (produção de alimentos) segue-se outro de decomposição (análise).

Esse equilíbrio é condição fundamental à continuidade da vida, porque se a quantidade de energia solar é praticamente inesgotável, por sua vez, a quantidade de carbono e outros elementos constitutivos das moléculas orgânicas é limitada no ambiente habitado.

Assim, produzir e consumir alimentos são processos vitais em cadeia. Uma árvore produz frutos. Aparecem pássaros que se alimentam deles. A árvore é um ser produtor e os pássaros são seres consumidores primários, porque se alimentam desse produtor. O gavião, que devora o pássaro é um consumidor secundário. A onça, que come o gavião, é consumidor terciário e assim por diante.


Oxigênio
Pristley, no século 18, faz uma experiência interessante. Colocou um rato sob uma campânula de vidro e uma planta sob outra. Ambos os organismos morreram depois de algum tempo. O primeiro por falta de oxigênio, e o segundo por não ter quem consumisse seu oxigênio. Em seguida, o cientista colocou outro ratinho e outra planta sob a mesma campânula e os dois sobreviveram. Isso ilustra bem que a produção e o consumo de oxigênio é um processo fundamental à continuidade da vida no Planeta.

Os vegetais fotossintetizantes, ao produzirem compostos orgânicos, liberam, com subproduto da reação, oxigênio molecular que enriquece o meio. Eles produzem muito mais oxigênio do que necessitam, permitindo a respiração de todos os consumidores aeróbios (a respiração aeróbia é realizada em mais larga escala na natureza).

Com o consumo de oxigênio na respiração e equivalente ao oxigênio produzido na fotossíntese, assim como ocorre inversamente com o gás carbônico, essas substâncias se equilibram no ambiente atmosférico, mesmo levando-se em conta as taxas de respiração e fotossíntese das plantas nos períodos diurnos e noturnos. Assim, a equivalência das atividades de síntese e de decomposição é responsável, também, pela manutenção do equilíbrio entre esses gases na Terra.


 

Cadeias alimentares
A capacidade de produzir e utilizar compostos orgânicos existentes no meio varia de uma para outra espécie vegetal ou animal. Cada espécie apresenta, assim, exigências particulares ou específicas com relação à composição e estrutura do meio ambiente.

Dessa forma, segundo o professor Samuel Murgel Branco, “o tipo de alimentação de cada espécie é um dos mais importantes fatores ecológicos a determinar a existência, a abundância, a predominância ou o equilíbrio em um determinado ambiente”.

Essas exigências particulares de alimento levam à existência de cadeias alimentares em cada ambiente ecológico. As cadeias se compõem de diferentes espécies de produtores e consumidores, uns sendo o alimento dos outros. Assim, a reprodução de cada um deles tem que ser suficientemente grande para, além de dar continuidade à própria espécie, fornecer o alimento indispensável à espécie que dela depende.

A destruição de um só dos elos dessa cadeia pode ter efeitos catastróficos, causando o desaparecimento total do elo seguinte (dependente do primeiro) e a superpopulação do meio pelo elo anterior. A eliminação de aranhas de uma região, por exemplo, pode causar o desaparecimento total do vespão que delas se alimentam e, conseqüentemente, a superpopulação de insetos.

O desequilíbrio pode ocorrer também com a introdução de um elemento estranho à cadeia e cuja proliferação se torna muitas vezes incontrolável. Por exemplo: a introdução do coelho na Austrália, para destruir cactos e plantas daninhas, gerou problemas ainda mais sérios que o anterior. O animal passou a dizimar plantações e não havia, na fauna local, outra espécie capaz de destruí-los. Esses elementos estranhos podem ser também substâncias – fertilizantes, por exemplo – que o homem utiliza para elevar a produção por área. Essas substâncias nutrem excessivamente organismos autótrofos e heterótrofos, quebrando o processo de síntese e decomposição. Quando se introduz, por exemplo, resíduos sólidos ou líquidos nas águas de um lago, isso pode conduzir a uma superpopulação de bactérias que consomem todo oxigênio, levando à morte peixes e outros seres aeróbios (processo de eutrofização).


 

Reprodução
Muitas plantas dependem de fatores físicos, como o vento ou a água, para transporte de seus grãos de pólen ou de suas sementes, que garantem sua fecundação e disseminação. Isso prova que o processo de reprodução – indispensável também à continuidade da vida na Terra – está ligado às condições ambientais, que o favorecem ou prejudicam.

Freqüentemente a reprodução envolve também relações interespecíficas, por vezes bastante complexas. Certas espécies dependem de outras para a realização de seu processo reprodutivo. Pássaros, morcegos, e outros animais são indispensáveis, por exemplo, ao transporte de sementes, garantindo a disseminação da espécie vegetal.

Algumas sementes possuem substâncias mucilaginosas que as fixam ao bico das aves, obrigando-as a esfregá-los na superfície de outra árvore, sobre a qual a semente germina.

A intervenção do homem na natureza, modificando ou eliminando qualquer um desses fatores ou seres responsáveis pela fecundação ou disseminação, pode originar profundas mudanças ecológicas.


 

Proteção
É preciso, pois, assegurar a sobrevivência da espécie e, para isso, dispor de estruturas e processos que as protejam de fenômenos naturais (intempéries) e da agressão de outros seres vivos.

Qualquer animal que não disponha de recursos defensivos eficientes pode ser completamente destruído por seus predadores naturais (há seres vivos que vivem da predação). Os vegetais não correm tanto risco por terem o poder da regeneração de suas partes lesadas ou amputadas e por terem crescimento vegetativo ilimitado. Apenas alguns animais têm essa capacidade de regeneração.

Os sistemas de proteção vão desde a simples camuflagem (o urso branco, por exemplo, confunde-se com a neve; e o tigre, com suas listas, com a vegetação típica do ambiente) até a construção de abrigos para o animal e sua prole (as conchas dos moluscos, as tocas dos roedores etc.).

Espinhos ( como os dos ouriços), couraças (das tartarugas e tatus), são outros tipos de estruturas defensivas. “Mas nem eles nem os abrigos acham-se tão intimamente relacionados com a natureza do meio ambiente quanto a camuflagem”, diz o professor Samuel Murgel Branco.

O camaleão, por exemplo, possui a capacidade de mudar a cor de sua pele, o que lhe possibilita confundir-se com uma grande variedade de locais. As borboletas têm as cores e a forma de pétalas de flores. Algumas gaivotas têm a coloração cinza azulada no dorso, que é confundida com a água do mar, quando vista de cima, e a cor branca na região ventral, que lhe permite não ser percebida pelos peixes, suas vítimas, de encontro à luz.

Quando a fauna natural desaparece, acontece um excessivo e desastroso desenvolvimento de animais nocivos que, por quantidade, acabam se livrando de seus predadores naturais, ficando com campo aberto para agir. Isso é muito comum na abertura da estradas ou grandes obras, quando é freqüente o aparecimento de doenças transmitidas principalmente por insetos.


 

O meio ambiente
O meio ambiente, o sistema ecológico ou ainda o ecossistema constituem-se num conjunto de elementos e fatores indispensáveis à vida. Qualquer unidade que inclua todos os organismos (a comunidade) de uma determinada área interagindo com o meio físico, constitui um sistema ecológico ou ecossistema, onde há um intercâmbio de matérias vivas e não vivas.

Para Samuel Branco, “no meio ambiente pode não haver vida. Já o ecossistema pressupõe, em si mesmo, a existência de visa”. Ele explica: – O meio ambiente constitui-se numa noção mais estática. Embora contenha elementos e condições necessárias à vida, pode não haver estrutura que a condicione. Meio ambiente também difere de habitat, que já dá uma conotação geográfica ou espacial. O habitat seria o ambiente nativo. Exemplos de ecossistemas: uma floresta inteira ou uma simples bromélia (família de plantas semelhantes ao abacaxi), um lago, um rio.


 

Um conjunto
Muitos fatores e elementos delimitam a composição de um ecossistema. Existe. por exemplo, a composição física do meio, como a natureza do solo, luminosidade, temperatura etc. A composição química: sais minerais e compostos orgânicos utilizados como nutrientes; acidez ou alcalinidade; oxigênio; gás carbônico. Há a presença de outras espécies: predadores, seres que vivem do mesmo tipo de alimento ou que depende reciprocamente uma espécie da outra, parasitas, alelopatas, que são vegetais que, através de suas folhas, ramos, frutos ou raízes, produzem substâncias que dificultam o crescimento de outros vegetais.


 

Nicho ecológico e nicho trófico
Nicho ecológico pode ser conceituado como um conjunto de características ambientais estatísticas, como fatores físicos, alimentação e predadores que definem o lugar no sentido funcional da espécie na natureza.

Quando esse sistema é analisado do ponto de vista energético (organismo-alimento-meio), é chamado de nicho trófico.


Sem improvisação 

Há ambientes naturais artificiais. Os naturais são constituídos por componentes dos ecossistemas em geral e que atendem às necessidades básicas de nutrição, reprodução e proteção.

Os seres vivos utilizam-se oportunamente dos elementos da natureza, mas são passivos em relação à estrutura e composição do meio ambiente. Sua participação na composição do ambiente ecológico é puramente circunstancial. Raríssimas espécies provocam alterações direcionais em um ecossistema, como as formigas, abelhas ou os castores que, mesmo assim, têm sua capacidade extremamente limitada por fatores naturais.

As abelhas, por exemplo, constróem habilidosamente suas colônias, mas dependem da existência de flores nas proximidades, como fonte de néctar e pólen para sua sobrevivência.

Os castores, por sua vez, cortam árvores e constroem barragens com os troncos, originando os lagos – ambiente favorável à sua vida e reprodução. Entretanto, na ausência de árvores, não conseguem substituí-las por outro material, como blocos de pedra, por exemplo.

Além disso, em todas as realizações, o animal nunca improvisa. Segue um padrão rígido de construção. Faz tentativas para fugir de uma armadilha, mas é incapaz de realizar experiências no sentido de conquistar um ambiente novo ou de alterar sua habitação natural. Ou ele encontra o ambiente e os materiais necessários ao seu modo de vida ou ele morre.

Na natureza, só o homem é capaz de fugir inteiramente a essas restrições. Sua capacidade de improvisação não tem limites e ele a usa para mudar seu ambiente de modo a torná-lo mais adequado ao seu tipo de vida. Que, por sinal, foi modificado por ele mesmo, perdendo seu sentido natural de satisfação e necessidades fisiológicas básicas.

Começaram a surgir no homem as necessidades ideais, traduzidas em conforto, bem estar, padrões estéticos, poder, satisfação de aptidões intelectuais, resultantes de atividade mental que lhe é peculiar e exclusiva.


Integração nos ecossistemas
O peixe está integrado em um ecossistema na medida em que se alimenta de crustáceos e estes de algas, que captam energia solar. Um leão faz parte de um ecossistema florestal porque se alimenta de pequenos animais, por sua vez, devoram outros menores, consumidores de vegetais, que captam energia solar.

Nem o peixe pode viver na floresta nem o leão no mar, simplesmente por não disporem de condições de obter alimentos (ou energia) nos ambientes trocados.

Um ser vivo está integrado em determinado ecossistema quando é capaz de fazer convergir para si as energias ou partes das energias Canalizadas através desse sistema, por intermédio de reações tróficas.

Não basta existir a energia no meio. Para dispor dela, os seres vivos necessitam de aptidões específicas e isso acaba por determinar a fixação da espécie a um único ecossistema, assim como estabelece um processo particular de canalização de energia através de elementos desse ecossistema.

Aqui também aparece o homem como exceção à regra. Ele é o único ser vivo que não é filiado a qualquer tipo de ecossistema. Ele consegue utilizar em seu benefício várias fontes físicas ou químicas de energia, sendo capaz de obter alimentos (energia) em qualquer ecossistema.


O equilíbrio através dos canais de energia
Os canais de energia nos ecossistema é que dão à natureza sua estabilidade, limitando a ação predatória que poderia facilmente acabar com uma espécie ou mesmo com um ecossistema. É fácil imaginar o que aconteceria se qualquer ser vivo pudesse se alimentar de toda espécie de animais ou vegetais que encontrasse pela frente.

É aqui que se pode sentir o perigo resultante de independência ecológica ou energética do ser humano.


O homem nos ecossistemas
Talvez tenha sido quando começou a utilizar o fogo que o homem iniciou as mudanças de seu ambiente ecológico. Ao queimar matas para o plantio e devastar florestas para obter combustível, ele deu origem aos primeiros desertos e aos problemas de erosão. A agricultura intensiva levou, em certas áreas, ao esgotamento dos nutrientes minerais da terra e sua consequente esterilização.

Os conflitos entre o ser humano e o ambiente que ele próprio criou começaram, pois, com a substituição dos processos naturais por métodos artificiais. E, se por um lado o homem não pode abandonar a tecnologia que criou e desenvolveu, por estar adaptado ao meio artificial originado por ela, por outro lado não poderá suportar indefinidamente o excesso de energia e os subprodutos introduzidos em seu meio ambiente natural.

É assim que o homem é obrigado a tentar soluções através do desenvolvimento de uma nova tecnologia de proteção ao meio ambiente.


Biosfera: os limites dos seres vivos
Nenhum ser vivo é capaz de viver permanentemente em temperaturas superiores a 70 ou 80 graus centígrados. Como também não agüentaria permanecer por muito tempo em temperaturas muito baixas. Existem limites em relação às variações do meio.

Esses extremos de tolerância natural dos seres vivos é que constituem as fronteiras que demarcam a biosfera. Não se trata, então, de uma camada geométrica do globo em que é possível a existência de vida. Isso tem um sentido muito mais ideal do que físico: vai até onde o ser vivo pode ir, com vida.

Os limites de tolerância estão também condicionados à velocidade e forma em que acontecem as mudanças no meio ambiente. Se as alterações forem muito rápidas, por exemplo, podem ocasionar o desaparecimento de espécies e até grandes catástrofes. Já as modificações lentas permitem uma adaptação evolutiva (evolução das espécies).

O homem sempre difere dos outros seres pela sua possibilidade de improvisação e criatividade. É dessa forma que escapa à seleção natural pela fome ou escassez de alimentos, tendo mais condições de sobreviver às mudanças e crescer populacionalmente.


Tecnosferra: o ambiente artificial
Para sobreviver a doenças e intempéries, o homem teve que desenvolver métodos e técnicas, amoldando o meio ambiente a novas condições e necessidades humanas. Aparecem substâncias contra as pragas da lavoura, que passaram a pertencer ao ambiente. Assim como surgiram métodos e substâncias para a preservação dos alimentos por tempo ilimitado e que se incorporaram ao nosso ecossistema.

Todos esses recursos artificiais utilizados pelo homem foram se tornando indispensáveis. A ele se dá o nome de tecnologia. E, o ambiente inteiramente artificial resultante da tecnologia vem sendo chamado de tecnosfera.

 


A vida em sociedades
Todos os seres vivos têm a tendência de viver em grupos de estruturas definidas, principalmente quanto à divisão de trabalho. Desde modo, é mais fácil obter alimentos, defender a prole, sem contar que a possibilidade de sobrevivência é muito maior do que com a vida isolada.

Entre os animais nota-se também a existência de castas, que diferem entre si por funções, e também biologicamente, como no caso das abelhas.

As grandes diferenças entre essas comunidades e as humanas são que o homem não difere de outro homem biologicamente: a seleção de trabalho é feita por seleção resultante de hábito ou treinamento, de tendência a aptidões mentais e de pressões sociais.

Outra diferença é que o homem, apesar de viver em comunidade, mantém um alto grau de individualidade – o que não acontece com os outros seres vivos. E da atividade mental do homem surge a originalidade, que também só se aplica ao ser humano, e cuja ausência em outros tipos de sociedade permite maior rigidez de estrutura e automatismo.

Como o homem é um ser individualista e criativo, sua dependência dos demais de sua espécie é apenas casual e questionável. Nessas condições, sua função na sociedade assume aspecto de obrigações.

Dessa forma, começou a existir o senso ético ou padrão de comportamento, única base para uma atividade cooperativa na comunidade humana. Não tendo base biológica, o padrão e o comportamento só podem derivar da compreensão, ou melhor, as obrigações do homem para com a comunidade só são assumidas quando entendidas suas finalidades.

O controle da qualidade do meio ambiente, por exemplo, quando realizado por animais, em benefício da sua comunidade, resulta de um padrão biológico. No caso do homem, a preservação de seu ecossistema somente será conseguida através de um processo de conscientização nesse sentido.


Desenvolvimento e proteção
Entretanto, o conflito entre desenvolvimento (produção) e proteção ao meio ambiente dificulta essa conscientização, A ação da tecnologia em relação às condições de sobrevivência do homem é geograficamente desigual. Em algumas áreas, a tecnologia mal aplicada gera grandes problemas para a qualidade da vida.

Há possibilidade de se desenvolver uma tecnologia branda, voltada para o uso de substâncias recicláveis, fontes de energia que não produzam resíduos que comprometam o meio ambiente.

É preciso, também, planejar-se adequadamente as atividades produtivas, visando a sua distribuição racional em relação às disponibilidades de área, de água e de recursos naturais em geral.


Poluição
É característica da atividade humana provocar desequilíbrios. Da mesma forma como o homem obtém energia e trabalho a partir de desequilíbrios térmicos (nas máquinas a vapor ou de explosão) ou de desequilíbrios mecânicos (energia hidráulica) ou de desequilíbrios químicos (pilhas elétricas) ou ainda desequilíbrios atômicos (energia nuclear), ele procura, através de desequilíbrios ecológicos, obter maior rendimento energético.

Quando alteração ecológica afeta, de maneira nociva, direta ou indiretamente, a vida e o bem estar humano, trata-se de poluição. É a modificação de características de um ambiente de modo a torná-lo impróprio às formas de vida que ele normalmente abriga. Uma pequena redução de teor normal de oxigênio de um curso de água, por exemplo, causado por uma insignificante elevação de sua temperatura, pode provocar o desaparecimento e substituição de um grande número de pequenos seres excepcionalmente ávidos de oxigênio, como as larvas de libélulas. Isso pode se constituir numa séria alteração ecológica em um rio de montanha, de águas muito frias, pois provoca uma sensível mudança qualitativa de sua flora e fauna. Mas se a queda de concentração de oxigênio for insuficiente para afetar a vida de peixes e a fauna original for substituída por organismo que ainda lhe sirvam de alimento, essa alteração ecológica não poderá ser considerada poluição.

A nocividade da poluição tem um caráter passivo e não ativo. Caracteriza-se pela perda das condições propícias à vida de determinadas espécies vegetais e animais. Um incêndio não é um fator ecológico e, assim, não é poluição. O fogo, além disso, não tem valor seletivo, do ponto de vista biológico.

A presença e a permanência de um tóxico na água de um rio pode ter valor seletivo, eliminando parte da poluição biológica e permitindo a sobrevivência e a proliferação da outra parte ou mesmo o aparecimento de nova flora em substituição às primeiras. Mas é um elemento ativo e não passivo. Da mesma forma, o lançamento de uma rede de pesca tem valor seletivo, destruindo apenas certos tipos de organismos (peixes) de acordo com seu tamanho. Mas, sendo um processo ativo, não pode ser considerado elemento ecológico ou poluidor.


A Amazônia

A Floresta Amazônica ocupa a Região Norte do Brasil, abrangendo cerca de 47% do território nacional. É a maior formação florestal do planeta, condicionada pelo clima equatorial úmido. Esta possui uma grande variedade de fisionomias vegetais, desde as florestas densas até os campos. Florestas densas são representadas pelas florestas de terra firme, as florestas de várzea, periodicamente alagadas, e as florestas de igapó, permanentemente inundadas e ocorrem na por quase toda a Amazônia central. Os campos de Roraima ocorrem sobre solos pobres no extremo setentrional da bacia do Rio Branco. As campinaranas desenvolvem-se sobre solos arenosos, espalhando-se em manchas ao longo da bacia do Rio Negro. Ocorrem ainda áreas de cerrado isoladas do ecossistema do Cerrado do planalto central brasileiro.


 

O Semi-árido (Caatinga)
A área nuclear do Semi-Árido compreende todos os estados do Nordeste brasileiro, além do norte de Minas Gerais, ocupando cerca de 11% do território nacional. Seu interior, o Sertão nordestino, é caracterizado pela ocorrência da vegetação mais rala do Semi-árido, a Caatinga. As áreas mais elevadas sujeitas a secas menos intensas, localizadas mais próximas do litoral, são chamadas de Agreste. A área de transição entre a Caatinga e a Amazônia é conhecida como Meio-norte ou Zona dos cocais. Grande parte do Sertão nordestino sofre alto risco de desertificação devido à degradação da cobertura vegetal e do solo.


O Cerrado
O Cerrado ocupa a região do Planalto Central brasileiro. A área nuclear contínua do Cerrado corresponde a cerca de 22% do território nacional, sendo que há grandes manchas desta fisionomia na Amazônia e algumas menores na Caatinga e na Mata Atlântica. Seu clima é particularmente marcante, apresentando duas estações bem definidas. O Cerrado apresenta fisionomias variadas, indo desde campos limpos desprovidos de vegetação lenhosa a cerradão, uma formação arbórea densa. Esta região é permeada por matas ciliares e veredas, que acompanham os cursos d’água.


A Mata Atlântica

A Mata Atlântica, incluindo as florestas estacionais semideciduais, originalmente foi a floresta com a maior extensão latitudinal do planeta, indo de cerca de 6 a 32oS. Esta já cobriu cerca de 11% do território nacional. Hoje, porém a Mata Atlântica possui apenas 4% da cobertura original. A variabilidade climática ao longo de sua distribuição é grande, indo desde climas temperados superúmidos no extremo sul a tropical úmido e semi-árido no nordeste. O relevo acidentado da zona costeira adiciona ainda mais variabilidade a este ecossistema. Nos vales geralmente as árvores se desenvolvem muito, formando uma floresta densa. Nas enconstas esta floresta é menos densa, devido à freqüente queda de árvores. Nos topos dos morros geralmente aparecem áreas de campos rupestres. No extremo sul a Mata Atlântica gradualmente se mescla com a floresta de Araucárias.


Ameaçada, a floresta tenta sobreviver após 500 anos de devastação
Quinhentos anos de desmatamentos sumários para abrir lavouras, pastagens, explorar madeira ou erguer cidades acabaram por ameaçar drasticamente uma das maiores biodiversidades do planeta: a Mata Atlântica. Antes um gigantesco tapete verdejante que ocupava 1,29 milhão de quilômetros quadrados ao longo de 17 Estados brasileiros, vizinha ao oceano Atlântico, hoje seus remanescentes somados são calculados em meros 7,3% em todo o País. Apesar das rigorosas leis de proteção implantadas na segunda metade do século 20, o risco de extinção permanece: ainda há muito o que fazer para conter a atividade irregular dos madeireiros, o avanço mal planejado dos meios urbanos e o tráfico de espécies animais e vegetais. Considerada por entidades internacionais como um dos biomas prioritários para execução de políticas de conservação, a Mata Atlântica, que já cobriu quase todo o território catarinense, hoje ocupa apenas 17,4% do Estado. Mas, segundo levantamentos recentes, dá sinais incontestáveis de que tem, sim, capacidade de se recuperar.


Ecossistema – Mata Atlântica está ameaçada de extinção
Florianópolis – Reduzida a 7,3% de seu território original (que era de 1,29 milhão de quilômetros quadrados, ou 12% do território nacional), a Mata Atlântica é um dos ecossistemas mais ameaçados de extinção do mundo. Hoje, restam 94 mil quilômetros quadrados de sua cobertura original. Mas esses 7,3% de áreas remanescentes – e muito fragmentadas – não estão distribuídos uniformemente para todos os conjuntos florestais que compõem o bioma. Vários deles estão mal conservados, quase extintos, ou ainda sub-representados nas unidades de conservação.

Mesmo com a devastação acentuada, a Mata Atlântica ainda abriga uma parcela significativa da diversidade biológica brasileira. O total de mamíferos, aves, répteis e anfíbios que ali ocorrem alcança 1.361 espécies, sendo 567 endêmicas (que só ocorrem ali), representando 2% de todas as espécies do planeta. Mas mesmo com a grande biodiversidade, 171 espécies da Mata Atlântica estão na lista oficial das 202 ameaçadas de extinção no Brasil. A Mata Atlântica ainda possui 20 mil espécies de plantas – das quais 8 mil são endêmicas – e se constitui no segundo maior bloco de floresta tropical do País. Levantamento realizado em 1996 na Estação Biológica de Santa Lúcia, no Espírito Santo, mostrou que, em apenas um hectare de Mata Atlântica, foram encontradas 476 espécies de árvores. É a maior diversidade arbórea do mundo, superando todos os números conhecidos da Amazônia.

Além da importância biológica, esse conjunto de ecossistemas é fundamental à manutenção do equilíbrio sócio-ambiental. Para cerca de 70% da população brasileira (mais de 100 milhões de pessoas) que vive em seu domínio, ela regula o fluxo dos mananciais hídricos (nela nascem ou passam diversos rios importantes, entre eles o Paraná, Tietê, São Francisco, Paranapanema, Itajaí-Açu e Cubatão), assegura a fertilidade do solo, controla o clima e protege escarpas e encostas das serras, além de preservar um grande patrimônio histórico e cultural. Recentemente foi considerada, a partir de estudos realizados por agências de fomento e grupos de especialistas, uma das grandes prioridades para a conservação de biodiversidade nas Américas. (FL)


Formações florestais são encontradas em 17 Estados brasileiros
A área de domínio do bioma Mata Atlântica compreende um conjunto de formações florestais que abrangem total ou parcialmente 17 Estados brasileiros situados ao longo da costa atlântica, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, além dos Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul. A floresta ombrófila mista, onde predomina o pinheiro-brasileiro, é a formação mais ameaçada da Mata Atlâtica, com apenas 3% de remanescentes da estrutura original.

De acordo com o último levantamento publicado pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento, feito em nove Estados, o Rio de Janeiro foi o que mais perdeu essa cobertura florestal. Em números absolutos, o Estado teve sua área florestal reduzida em mais de 140 mil hectares, representando uma perda de 13% com relação ao levantamento anterior (entre 1985 e 1990). O segundo Estado que mais devastou foi Minas Gerais, que perdeu 88.951 mil dos hectares existentes em 1990, restando hoje 7,32% da estrutura original. Os nove Estados estudados também destruíram outros 14.392 hectares de manguezais e restingas, ecossistemas associados à Mata Atlântica.

Os Estados do Nordeste não foram mapeados mas nessa região, segundo a entidade, a situação não é melhor. No Sul da Bahia, por exemplo, concentra-se um dos maiores focos de desmatamento da atualidade. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) interveio através da aprovação da resolução 240, suspendendo todos os planos de manejo aprovados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para madeireiros da região. (FL)


Desmatamento reflete falta de controle dos órgãos ambientais
Os 7,3% restantes da estrutura original da Mata Atlântica refletem o desmatamento – e a conseqüente perda de hábitat – ainda acelerado e fora do controle dos órgãos ambientais públicos responsáveis. Embora esse complexo florestal esteja reconhecido como patrimônio nacional desde 1988, com a promulgação da Constituição Brasileira, um monitoramento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Instituto Socioambiental (ISA), mostrou que somente entre 1990 e 1995 mais de meio milhão de hectares de florestas foram destruídos em nove Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste – que concentram aproximadamente 90% do restante da Mata Atlântica.

Esse valor é equivalente a mais de 714 mil campos de futebol eliminados do mapa em cinco anos, a uma velocidade de um campo de futebol derrubado a cada quatro minutos – uma destruição proporcionalmente três vezes maior do que a verificada na Amazônia no mesmo período. Somando-se esses números aos do estudo anterior, referente ao período 1985-1990, chega-se à cifra de 11% de Mata Atlântica destruída em dez anos, provocando uma queda de 8,8% para 7,3% na estimativa de mata primária e secundária em regeneração remanescente em todo o País.

De acordo com o Centro de Pesquisas Iracambi, de Minas Gerais, esses 500 mil hectares de matas derrubadas entre 1985 e 1990 “desapareceram porque na década de 80 a economia brasileira estava muito fraca. O Brasil começou a ter que pagar os empréstimos feitos durante a ditadura militar. Subsídios para agricultura foram cortados e a inflação aumentou muito, ao mesmo tempo em que o mercado mundial se virou contra a agricultura. A pressão em cima dos fazendeiros brasileiros para que explorassem ainda mais os recursos de suas terras foi imensa. A conseqüência disso foi a derrubada da floresta, o cultivo intenso das terras e o desgaste do solo. A vegetação virou pasto e foi consumida pelo gado. O que restou foi levado pela chuva e iniciou o processo de erosão do solo, tornando-o inadequado para o plantio. Com isso o fazendeiro acabava derrubando mais florestas para plantar”.

Um novo levantamento sobre os remanescentes de Mata Atlântica em dez Estados do Centro-sul, relativo ao período de 1995 a 2000, começou a ser divulgado no mês passado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Inpe. Por enquanto os únicos números conhecidos são os do Rio de Janeiro, que, de acordo com o levantamento anterior, foi o que mais desmatou entre 1990 e 95. Pelo novo Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, nesse Estado restam hoje 16,7% dos mais de 734 mil hectares originais. Os números relativos a Santa Catarina devem ser divulgados pela Fundação SOS Mata Atlântica no final de maio, em Florianópolis.


Riqueza biológica
Os índices preliminares de remanescentes apontam para uma redução no ritmo de desmatamentos. No entanto, descobriu-se que a floresta remanescente está bastante fragmentada e esse processo continua ocorrendo em muitas regiões, comprometendo a conservação da fauna e da flora. Estudos comprovam que a floresta fragmentada perde sua riqueza biológica causando, em muitos casos, quadros irreversíveis.

Cem hectares de Mata Atlântica contínua não são iguais a dez fragmentos de dez hectares. Nos pequenos remanescentes os animais maiores e os predadores não se sustentam e migram para outra região ou morrem. Alguns pequenos animais desaparecem, dependendo de sua dieta e/ou das necessidades de abrigo que tenham. Matas pequenas também têm menos chance de renovação. Em geral, as estratégias de reprodução das árvores, desenvolvida ao longo de milhares de anos, incluem a dispersão de suas sementes num raio muito grande em seu entorno, seja através dos animais, da água ou do vento. (FL)


Estados com domínio da Mata Atlântica:
» Rio» Grande» do» Sul
» Santa Catarina
» Paraná
» São Paulo
» Goiás
» Mato Grosso do Sul
» Rio de Janeiro
» Minas Gerais
» Espírito Santo
» Bahia
» Alagoas
» Sergipe
» Paraíba
» Pernambuco
» Rio» Grande» do» Norte
» Ceará
» Piauí


SC tem apenas 17,4% da floresta original
Florianópolis – Todas as formações florestais de Santa Catarina estão inseridas no domínio do bioma da Mata Atlântica. Mas hoje, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, resta apenas 17,4% dos 85% da estrutura original desta cobertura florestal. Da extensão territorial do Estado – de 95.985 quilômetros quadrados – 81.587 quilômetros quadrados eram de domínio da Mata Atlântica. Pelos últimos levantamentos publicados pela fundação, em conjunto com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e o Instituto Socioambiental (ISA), Santa Catarina perdeu, somente entre os anos de 1990 e 1995, mais de 70 mil hectares. Esse número equivale a 55 campos de futebol por dia.

O município que mais desmatou foi Abelardo Luz, no Oeste do Estado, onde sumiram 4,5 mil hectares de floresta ombrófila mista (onde predomina a araucária). Nesse município foram implantados 16 assentamentos de reforma agrária, com 2,2 mil famílias assentadas.


 

Recorde
Das perdas referentes ao início da década de 90 mais de 8.694 hectares foram de restingas e 155 de manguezais. Isso rendeu a Santa Catarina o título de Estado campeão em desmatamento de restinga entre 1990 e 1995, especialmente na região de Joinville. O dado é ressaltado pelo presidente da Fundação SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani.

“Houve grande desmatamento de restinga nesta região. Além disso, tem o problema de que o Ibama da região não concorda com alguns pontos do Decreto 750, de 1993, que define quais vegetações estão inclusas na Mata Atlântica”, considera.

Além dos assentamentos de reforma agrária, da fumicultura no Sul do Brasil e da expansão agropecuária, a especulação imobiliária foi uma das principais causas dos desmatamentos que culminaram nos atuais – e drásticos – índices de remanescentes florestais. Em Santa Catarina eles estão concentrados, em sua maioria, em propriedades privadas e em áreas dominadas por indústrias madeireiras.


 

Expectativa
A boa notícia, sinalizada pelos dados divulgados pela equipe da Fundação SOS Mata Atlântica, é a redução no ritmo de devastação nos Estados em que, entre 1985 e 1990, foram os que mais desmataram: Santa Catarina e Paraná. Apesar disso, os números absolutos são bastante elevados, considerando que o primeiro continua sendo o maior devastador de restinga e o segundo, de pinheirais.

Atualmente, as três entidades trabalham na finalização dos dados referentes ao período entre 1995 e 2000. Foram adotadas novas tecnologias e metodologias e o aperfeiçoamento incluiu o uso de imagens digitais, o que permitiu ampliar a escala de mapeamento de 1:250.000 para 1:50.000 e reduzir a área mínima monitorada para dez hectares. (FL)


 

O Pantanal Mato-Grossense
O Pantanal mato-grossense é a maior planície de inundação contínua do planeta, coberta por vegetação predominantemente aberta e que ocupa 1,8% do território nacional. Este ecossistema é formado por terrenos em grande parte arenosos, cobertos de diferentes fisionomias devido avariedade de microrelevos e regimes de inundação. Como área transicional entre Cerrado e Amazônia, o Pantanal ostenta um mosaico de ecossistemas terrestres com afinidades sobretudo com o Cerrado.


 

Outras Formações – Os Campos do Sul (Pampas)
No clima temperado do extremo sul do país desenvolvem-se os campos do sul ou pampas, que já representaram 2,4% da cobertura vegetal do país. Os terrenos planos das planícies e planaltos gaúchos e as coxilhas, de relevo suave-ondulado, são colonizados por espécies pioneiras campestres que formam uma vegetação tipo savana aberta. Há ainda áreas de florestas estacionais e de campos de cobertura gramíneo-lenhosa.


 

A Mata de Araucárias (Região dos Pinheirais)
No Planalto Meridional Brasileiro, com altitudes superiores a 500m, destaca-se a área de dispersão do pinheiro-do-paraná, Araucária angustifolia, que já ocupou cerca de 2,6% do território nacional. Nestas florestas coexistem representantes da flora tropical e temperada do Brasil, sendo dominadas, no entanto, pelo pinheiro-do-paraná. As florestas variam em densidade arbórea e altura da vegetação e podem ser classificadas de acordo com aspectos de solo, como aluviais, ao longo dos rios, submontanas, que já inexistem, e montanas, que dominavam a paisagem. A vegetação aberta dos campos gramíneo-lenhosos ocorre sobre solos rasos. Devido ao seu alto valor econômico a Mata de Araucária vêm sofrendo forte pressão de desmatamento. Exploração indiscriminada.Florestas de araucária foram devastadas.

As florestas de araucária (tecnicamente chamadas de floresta ombrófila mista) representam o quadro mais grave em termos de exploração indiscriminada no Sul do País. “Alguns estudos apontam uma perda de diversidade da ordem de 51% nessas florestas”, aponta o professor João de Deus Medeiros. No início do século as araucárias dominavam cerca de 25% do Sul do Brasil, segundo o professor Miguel Guerra. Hoje as estimativas otimistas indicam que essa floresta está reduzida a 3% do território da região.

“A mata de araucária é emblemática porque era a única floresta de coníferas do mundo inteiro dominada por uma única espécie. Ela tem toda uma singularidade”, considera Guerra. Segundo ele, pesquisas feitas na pós-graduação em recursos genéticos vegetais – que foi pioneira na pesquisa a respeito do manejo de espécies florestais – indicam que a araucária tem grande potencial de melhoramento genético. “O pinus tem 100 anos de melhoramento genético – quatro gerações. A araucária não tem nenhuma geração de melhoramento genético, e mesmo assim é uma planta com bom sítio de produção. Ela teria uma produção de biomassa equivalente à produção de pinus“, afirma. “Mas existe uma cultura extrativa predatória que diz ‘taí, é pra derrubar mesmo’. Engraçado que há políticos tidos de boa estirpe envolvidos nesse processo”, lamenta o professor.

De acordo com João de Deus Medeiros, o último remanescente respeitável de mata de araucária fica nos municípios de Abelardo Luz e Passos Maia, na região do rio Chapecó, Meio-oeste do Estado. “É um grande remanescente contínuo de araucária, de floresta realmente bem conservada. No restante do Estado há manchas esparsas, ilhotas remanescentes isoladas em função da ocupação do espaço adjacente pela agricultura”, descreve, referindo-se a um sobrevôo feito com integrantes da Apremavi. “Do helicóptero, a gente via só um tapete verde”, conta sobre o remanescente que, pondera, não se pode afirmar ser de formação primária (nunca antes desmatado). “Mas certamente é uma formação que teve interferência muito pequena, um dos poucos muito bem preservados do Estado.” (APL)


Ecossistemas costeiros e insulares
Os ecossistemas costeiros geralmente estão associados à Mata Atlântica devido a sua proximidade. Nos solos arenosos dos cordões litorâneos e dunas, desenvolvem-se as restingas, que pode ocorrer desde a forma rastejante até a forma arbórea. Os manguesais e os campos salinos de origem fluvio-marinha desenvolvem-se sobre solos salinos. No terreno plano arenoso ou lamacento da Plataforma Continental desenvolvem-se os ecossistemas bênticos. Na zona das marés destacam-se as praias e os rochedos, estes colonizados por algas. As ilhas e os recifes constituem-se acidentes geográficos marcantes da paisagem superficial.


Urbanização é fator de risco para ecossistemas costeiros
Enquanto a exploração da madeira e a agricultura são as principais ameaças das florestas de araucária, no caso dos ecossistemas costeiros a urbanização parece ser o principal fator de risco. A situação da Ilha de Santa Catarina, que abriga a Capital do Estado, Florianópolis, é emblemática. Dos seus 423 quilômetros quadrados, 90% eram originalmente cobertos por vegetação de Mata Atlântica – floresta ombrófila densa, restingas e manguezais – e o restante por lagoas e dunas sem vegetação, segundo estudo de Mariléia Caruso citado no relatório “Uma cidade numa Ilha” (Editora Insular, 1997), da organização não-governamental Centro de Estudos Cultura e Cidadania (Cecca). Até 1978, segundo esse levantamento, nada menos que 87,8% dessa vegetação havia sido desmatada.

Inicialmente essa devastação também esteve associada à abertura de campos para a agricultura e pecuária, a partir do estabelecimento das colônias de açorianos, em 1748. Com o declínio da agricultura e o início do processo de urbanização, já no século 20, muitas áreas livres foram abandonadas e hoje estão em diferentes estágios de regeneração. “É possível afirmar que a Ilha possui hoje mais floresta em pé do que no período em que a agropecuária estava no seu auge. Entretanto, sabemos que esta atual floresta em pé está longe de ser a mesma, em termos de diversidade e estrutura, que a encontrada pelos primeiros colonizadores”, observa o trabalho do Cecca.

Nos últimos 30 anos a ocupação das áreas tidas como de preservação permanente aumentou de forma drástica em Florianópolis. Os manguezais, situados nas margens das baías, já serviram de fonte de lenha e hoje, apesar de estarem inseridos em unidades de conservação como a Estação Ecológica de Carijós (Norte da Ilha) e a Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé (Sul), são alvo de aterros e receptores de esgotos não tratados. O manguezal do Itacorubi, que fica mais próximo do aglomerado urbano, sediou até o final da década de 80 o lixão do município.

As restingas, que representavam originalmente 7% da cobertura vegetal da Ilha (29,6 quilômetros quadrados), tiveram 22,4% de sua área desmatada até 1978, segundo o levantamento de Mariléa Caruso. “A localização dessas áreas junto ao mar aumenta a pressão das invasões devido à especulação imobiliária, propiciada pela valorização dos terrenos gerada pelo turismo”, diz o trabalho do Cecca. (APL)

TRÁFICO 1 – Os indígenas deram grande apoio aos portugueses para capturar animais vivos e peles. Além do pau-brasil, em 1511 o navio Bretoalevou à Europa uma carga com 23 periquitos, 16 felinos, 19 macacos e 15 papagaios.

TRÁFICO 2 – Já em 1532, registros indicam que o navio Pélérine transportou às terras do Velho Mundo 3 mil peles de leopardos, 300 macacos e 600 papagaios, aves que eram apreciadas por sua plumagem exuberante.

TRÁFICO 3 – A exploração do pau-brasil foi mais intensa no Nordeste, porque as árvores do Sul eram pouco apreciadas. Em 1534, a Coroa decretou que todas as árvores da espécie eram propriedade real e sujeitou a exploração a concessão.

FAUNA 1 – A exploração desordenada tem levado a fauna brasileira a um processo intenso de extinção de espécies. O avanço da fronteira agrícola e a caça – esportiva, de subsistência ou com fins econômicos – contribuem para o fenômeno.

FAUNA 2 – O processo cresceu nas últimas duas décadas, à medida que a população e os índices de pobreza aumentam. O Ibama tem uma lista oficial de animais ameaçados de extinção, elaborada em conjunto com especialistas.

FAUNA 3 – O Brasil possui 208 espécies oficialmente ameaçadas de extinção. Os comitês e grupos de trabalho que assessoram o Ibama na elaboração da lista produziram também planos de manejo para duas espécies: a jaguatirica e o lobo-guará.

FLORA 1 – Portaria estabelece que a coleta, transporte, comercialização e industrialização de plantas ornamentais, medicinais, aromáticas e tóxicas, oriundas de floresta nativa, dependem de autorização do Ibama.

FLORA 2 – Atualmente, 107 espécies de plantas são reconhecidas oficialmente como ameaçadas de extinção. A divisão de flora do Ibama tem a tarefa de propor e executar medidas e programas especiais para sua conservação.

FLORA 2 – Atualmente, 107 espécies de plantas são reconhecidas oficialmente como ameaçadas de extinção. A divisão de flora do Ibama tem a tarefa de propor e executar medidas e programas especiais para sua conservação.

Estes dados foram fornecidos pelo IBGE

Em novembro de 1971, o biólogo alemão Harald Sioli, do Instituto Max Planck, estão fazendo pesquisas na Amazônia, foi entrevistado por um repórter de uma agência de notícias americana. O jornalista estava interessado na questão da influência da floresta sobre o planeta e o pesquisador respondeu com precisão a todas as perguntas que lhe foram feitas. Mais tarde, porém, ao redigir a entrevista, o repórter acabou cometendo um erro que ajudaria a criar um dos mais persistentes mitos sobre a floresta amazônica. Numa de suas respostas, Sioli afirmara que a floresta continha grande quantidade de dióxido de carbono ( CO² ) existente na atmosfera. No entanto, ao transcrever a declaração, o jornalista esqueceu a letra C – símbolo do átomo de carbono – da fórmula citada pelo biólogo, que ficou no texto como , o símbolo da molécula de oxigênio.

A reportagem com o oxigênio no lugar do dióxido de carbono foi publicada pelo mundo afora e assim, da noite para o dia, a Amazônia se tornou conhecida como “pulmão do mundo” – uma expressão de grande impacto emocional que tem ajudado a semear a confusão no debate apaixonado entre os efeitos ambientais em larga escala da ocupação da floresta. É um debate em que, por enganos como aquele, maus argumentos acabam sendo usados para escorar uma causa justa. As organizações de defesa da ecologia misturam às vezes no mesmo balaio fatos e fantasias ao alertar para os perigos das queimadas da floresta amazônica – até porque dados e conceitos capengas sobre o assunto só levam água para o moinho daqueles que não querem que se faça alarde algum sobre as agressões à natureza que ali se cometem.

De resto, não e tão simples assim achar as verdades definitivas sobre o papel que a floresta desempenha no quebra-cabeça ambiental, num mundo assolado por espectros do tipo efeito estufa, desertificação, chuva acida e destruição da camada de ozônio, para citar apenas os mais assustadores. As teimosas referencias ao “pulmão do mundo”, nesse contexto, são exemplares. Pois a Floresta Amazônica, simplesmente, não e o “pulmão do mundo”. E o motivo não é difícil de entender. As arvores, arbustos e plantas de pequeno porte, da mesma forma que os animais, respiram oxigênio durante as 24 horas do dia. Na floresta, a quantidade desse gás produzida de dia pelas plantas é totalmente absorvida durante a noite, quando a falta de sol interrompe a fotossíntese. Os vegetais são capazes de criar eles próprios os alimentos de que precisam. O responsável por essa característica e justamente a fotossíntese.

Na presença da luz solar, graças a uma molécula chamada clorofila, que lhes da a coloração verde característica, as plantas, incluindo as algas e o plâncton marinho, retiram da atmosfera dióxido de carbono e o transformam em carboidratos, principalmente glicose, amido e celulose. Desta sucessão de reações químicas, sobra o oxigênio, do qual uma parte é aproveitada para os processos respiratórios dos vegetais e outra é lançada na atmosfera. Quando a planta é jovem, em fase de crescimento, o volume de oxigênio produzido na fotossíntese é maior que o volume necessário à respiração. Nesse caso, a planta produz mais oxigênio do que utiliza.

Isso acontece porque a planta jovem precisa fixar um grande volume de carbono para poder sintetizar as moléculas que são a matéria-prima de seu crescimento. Já nas plantas maduras, porem, o consumo de oxigênio na respiração tende a igualar o total produzido na fotossíntese. A Amazônia não constitui uma floresta em formação. Ao contrario, é um exemplo da plenitude do ecossistema interação entre um ambiente e os seres vivos que o habitam chamado floresta tropical úmida. Nela, portanto, os seres vegetais já crescidos consomem todo o oxigênio que produzem. Apesar de não ser o pulmão do mundo, a floresta amazônica apresenta outras características que muito contribuem para a manutenção da vida no planeta.

As florestas são grandes fixadoras do carbono existente na atmosfera. Somente as matas tropicais contem cerca de 350 milhões de toneladas de carbono, aproximadamente a metade do que há na atmosfera. Ora, o ciclo deste elemento químico esta saturado no planeta, como dizem os especialistas. Devido a queima de combustíveis fosseis gás, carvão e petróleo o carbono se acumula cada vez mais na atmosfera, na forma de dióxido de carbono, metano e compostos de clorofluorcarbono. Esse acumulo é responsável pelo chamado efeito estufa, o aprisionamento da energia radiante que, se suspeita, tende a aumentar a temperatura global da Terra, com efeitos catastróficos também para o homem. Nesse quadro, as florestas exercem uma função essencial, na condição de maiores controladoras do efeito estuda. Por isso, na opinião de um cientista, a Floresta Amazônica é o “grande filtro” do planeta.

Segundo cientistas brasileiros, medições feitas em 1987 mostraram que cada hectare da floresta retira da atmosfera, em media, cerca de 9 quilos de carbono por dia ( um hectare equivale a dez mil metros quadrados ). A cada ano, o homem lança na atmosfera algo como 5 bilhões de toneladas de carbono. É como se cada ser humano fosse pessoalmente responsável pelo lançamento de uma tonelada de gás por ano. Somente a Amazônia brasileira, com seus 350 milhões de hectares, retira do ar aproximadamente 1,2 bilhão de toneladas anuais, ou seja, pouco mais de um quinto do total. Números como esses causariam polemica num passado não muito remoto, quando se duvidava que a floresta fosse capaz de armazenar tamanho volume de carbono. Hoje, porem, se sabe que a assimilação apenas repõe o volume de gás continuamente perdido para o solo e para os rios.

Uma controvérsia que freqüentemente aquece a discussão sobre a floresta amazônica diz respeito à parte que cabe às queimadas na região de acumulação de CO² na atmosfera. Os cálculos mais aceitos dizem que as queimadas liberam 200 milhões de toneladas de carbono por ano, ou seja, 4 por cento da emissão total. Segundo o INPE, os desmatamentos por queimadas de todas as florestas do globo contribuem com 16% do acúmulo de dióxido de carbono. Mesmo que a floresta amazônica fosse queimada, especulam, “o aumento da concentração do gás seria da ordem de 2 por cento”. Dito desse modo, pode-se ter a impressão de que pouco importa para o clima planetário haver ou não uma Amazônia. Nada mais errado e perigoso. Pois, alem de serem controladoras do efeito estufa, as florestas podem exercer enorme influencia sobre o clima do globo. A Amazônia é uma grande maquina de produzir calor. Daí seu papel decisivo para manter estável o clima nos países do hemisfério norte.

A produção de calor na floresta resulta das altas taxas de evaporação e transpiração no local. Na Amazônia, cerca de 80 a 90% da energia disponível é consumida nesse processo. Quando o vapor de água se condensa para formar nuvens, libera a mesma quantidade de energia que foi necessária à sua evaporação. À medida que as nuvens crescem, vão convertendo mais vapor em gotas de água, aquecendo a atmosfera circundante. Há dias na Amazônia em que a temperatura nas camadas mais altas cerca de 10 mil metros do solo chega a aumentar 30 graus. Essa fantástica quantidade de calor é então transportada para fora dos trópicos, rumo ao hemisfério norte.

Alem da Amazônia, existem duas outras grandes fontes de calor no planeta. Uma é a floresta tropical da bacia do rio Congo, na África Central. A outra é de origem oceânica : uma região do Pacifico próxima ao norte da Austrália e à Indonésia, onde uma confluência de correntes faz com que a temperatura da água esteja sempre entre os 27 e 31 graus. As altas temperaturas fazem com que as taxas de evaporação sejam igualmente elevadas, promovendo a formação de nuvens e conseqüente produção de calor, A destruição da floresta poderia alterar dramaticamente o clima dos países do hemisfério norte, segundo os climatológos. “Sem o transporte de calor dos trópicos, esses países passariam a ter invernos ainda mais frios e mais longos”.

Toda floresta é um ecossistema extremamente complexo. As florestas constituem o ponto final do processo evolutivo dos ecossistemas terrestres no planeta. “Estes representam o máximo de vida possível em um determinado espaço. A tendência natural da vida na Terra é produzir florestas”, dizem os ecólogos. Existem três grandes tipos de florestas no mundo a boreal, encontrada nas altas latitudes do hemisfério norte; as temperadas, que existem nos Estados Unidos, norte da Europa e na Ásia; e as tropicais, mais próximas do equador, que cobrem 7% da superfície da Terra e abrigam pelo menos metade das espécies do planeta.

Cada qual tem suas próprias especificidades e características próprias, mas as três apresentam uma coisa em comum : são exemplos bem-sucedidos da colonização de extensas áreas pelos vegetais. A floresta amazônica provavelmente é o melhor exemplo. Arraigada a solos pobres em minerais e material orgânico, a floresta não só se auto-sustenta e se mantêm, como também exibe uma exuberância e uma riqueza de espécies inigualável em todo o planeta. Estima-se que a Amazônia abriga cerca de 80 mil espécies vegetais e possivelmente 30 milhões de espécies animais a maioria insetos.

Examinada mais de perto, a floresta amazônica parece um paradoxo ecológico. De fato, como a maior floresta do mundo consegue existir em solos tão ralos e secos, que não chegam a oferecer sustentação às plantas, obrigadas então a espalhar suas raízes para adquirir estabilidade ? Milhões de anos de chuvas levaram os solos antigos da Amazônia, que na sua configuração atual existe há uns 15 mil anos, transportando para os rios e depois para o mar toda a sua riqueza mineral. Para enfrentar o problema, os vegetais parecem Ter inventado esquemas alternativos de sobrevivência. Em resumo, aprenderam a se alimentar por si mesmos.

Ao contrario do que ocorre na floresta temperada, cujos solos são nutritivos, os ciclos de vida na floresta tropical – principalmente na Amazônia – devem ser mais velozes. As folhas das arvores caem mais depressa e uma vez no solo se decompõem mais rapidamente para que seus nutrientes possam ser reaproveitados no menor tempo possível pelos vegetais ao redor. Isso faz com que o suprimento vital de alimento na floresta esteja armazenado na própria folhagem. Assim, a riqueza das florestas tropicais está na massa vegetal, não no solo. Isso enganou e ainda engana aqueles que, diante das arvores portentosas, acharam que os solos da floresta seriam tão férteis que neles em se plantando tudo daria.

Estima-se que a floresta tenha de 500 a 700 toneladas de matéria verde viva por hectare, incluindo caules, troncos e raízes. Desse total, as folhas representam cerca de 20 toneladas, ou seja, algo como 3 ou 4%. Em comparação com a massa vegetal, a fauna não e tão abundante. Existem somente 30 quilos de herbívoros por hectare, por exemplo. A razão desse outro paradoxo é a mesma da anterior. Apesar da exuberância e variedade, as espécies vegetais da floresta são extremamente pobres em vitaminas e nutrientes, o que as torna inadequadas ao sustento de rebanhos animais.

Essa é também a causa da rarefação humana no ecossistema da floresta tropical. Mesmo as comunidades indígenas que ali se desenvolveram se caracterizam pelo numero relativamente limitado de membros. A Amazônia não atrai naturalmente grandes aglomerações humanas. A falta de animais herbívoros acarreta, por outro lado, um menor numero de espécies de mamíferos selvagens. Em termos da presença desses animais, a Amazônia fica atras de todas as formações vegetais do planeta. A extrema diversificação de espécies vegetais na floresta cerca de trezentas variedades por hectare, em media também é uma resposta da natureza às condições desfavoráveis da região.

Cada espécie tem suas características próprias quanto à disposição das raízes no solo e ao aproveitamento dos nutrientes. Assim, quanto maior fora diversidade numa área, maior o aproveitamento de todos. Praticamente, nada é perdido. Na Amazônia, a competição parece ter alcançado um estágio de requintado equilíbrio. A variedade de espécies vegetais só é igualada pela de insetos, vermes e outros ínfimos seres que constituem amicrofauna da floresta. Em cada hectare podem ser encontradas cerca de 120 toneladas dessas formas de vida. Outra região da floresta tropical, a ilha de Barro Colorado, na zona do Canal de Panamá, hospeda cerca de 20 mil espécies de insetos. Para se ter uma idéia do que isso significa, em toda a França, por exemplo, não existem mais do que algumas centenas. A grande diversificação de espécies, para os cientistas, é o que constitui a maior riqueza das florestas tropicais.

Algumas pesquisas estimam que somente na Amazônia possa residir cerca de 30% de todo o estoque genético do planeta, ou seja, 30% de todas as seqüências de DNA que a natureza combinou. É um numero extraordinário, e certos pesquisadores ainda consideram tratar-se de um calculo por baixo. Uma coisa é absolutamente certa : a preservação da variedade genética da floresta amazônica – que faz da região uma espécie de banco de genes, o maior do mundo – deve ser um dos argumentos mais fortes contra o desmatamento por atacado e a ocupação sem critério da Amazônia. Pois, por mais abstrato que esse argumento possa parecer aos invasores do local – desde os simples colonos que migraram de outras regiões às empresas multinacionais de mineração – cada espécie é única e insubstituível e sua destruição pode significar a perda de um importante acervo genético, de incalculável valor prático para o homem.

Apenas se começa a aprender a ler as informações contidas nas florestas tropicais – e existe aí uma verdadeira enciclopédia a ser conhecida. Os índios com certeza tem algo a ensinar nesse vasto capitulo. Os antropólogos descobriram que cada comunidade indígena que habita a Amazônia dispõe de um cardápio de pelo menos cem plantas e um receituário de duzentas espécies vegetais. Um exemplo relativamente recente da utilização do estoque genético da floresta é o desenvolvimento de um remédio contra a hipertensão inspirado no veneno da jararaca. Essa cobra mata a sua presa com uma substancia toxica que reduz a zero a pressão sangüínea do animal. Os estudos sobre a ação do veneno no organismo trouxeram informações valiosas para o reconhecimento da pressão no ser humano.

É esse patrimônio que deve ser preservado junto com as florestas. É um desafio urgente. O atual ritmo de extinção de espécies no mundo provavelmente não tem paralelo. Os pesquisadores calculam que nos próximos 25 anos cerca de 1,2 milhão de espécies ( dos até 30 milhões que se supõe existir na Terra ) desaparecerão por completo com a devastação de seus refúgios florestais. Isso equivale a um genocídio de aproximadamente 130 espécies inteiras por dia.

O debate em torno da preservação das florestas tropicais ainda esta longe de se esgotar. A maioria das previsões mais ou menos desastrosas que se faz nesse campo estão atreladas a modelos matemáticos, muitas vezes passíveis de falhas. De todo modo, enquanto os especialistas conferem suas projeções, fatos acontecem. E a idéia de preservar indefinidamente a floresta amazônica se mostra cada vez mais impraticável. Como a vocação da Amazônia é essencialmente florestal, é necessária a sua utilização racional, menos predatória.

A questão que está posta é rigorosamente esta : conjugar o desenvolvimento e a abertura de novas fronteiras com o delicado equilíbrio que sustenta os ecossistemas da floresta tropical. Iniciativas como a construção de grandes hidrelétricas devem ser planejadas cuidadosamente, se bem que seus efeitos a longo prazo para a floresta ainda sejam desconhecidos. Não se pode perder de vista um dado essencial : o conhecimento sobre a dinâmica das florestas tropicais ainda é muito precário. Não ocorre o mesmo com as florestas temperadas do hemisfério norte. Por sinal, ao contrario do que se imagina, essas florestas vêm aumentando sensivelmente nas ultimas décadas. Na França, por exemplo, representam atualmente cerca de 30% do território menos em todo caso do que ao tempo da Revolução de 1789. Calcula-se que a chuva acida e a poluição danificaram pouco mais de um quinto das áreas florestais na Europa. No Japão, o ultimo relatório anual sobre a situação do meio ambiente no paismostra que 67% do arquipélago está coberto de florestas. Se a isso se somarem as áreas ocupadas por lagos, montanhas, neves eternas e pradarias, se verá que ali as regiões naturais chegam a 80% da área total. Em resumo, toda a extraordinariamente vigorosa economia do Japão brota numa área inferior ao estado do Rio de Janeiro prova de que a propriedade não é incompatível com a preservação da natureza. Ou com seu uso inteligente, quando não há outra alternativa.